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A importância do financiamento climático para periferias e favelas
como ferramenta de 
transformação

Carta aberta

O impacto das mudanças climáticas já são uma realidade na vida de milhões de pessoas mundo afora. O aumento das temperaturas ao longo do tempo está mudando os padrões climáticos e perturbando o equilíbrio da natureza, representando riscos para os seres humanos e todas as outras formas de vida na terra.

 

Em um mundo globalizado e calcado por dinâmicas de exploração dentro de um sistema econômico produtor de desigualdades, estes efeitos associados ao clima não afetam todos de forma igual. O chamado “racismo ambiental” é associado ao contexto desigual dos impactos da crise climática, resultando em danos ambientais e sociais desiguais entre diferentes classes e raças da sociedade brasileira.

 

No Brasil, nas cidades e centros urbanos e rurais, o racismo ambiental tem um impacto significativo na população que vive em favelas e periferias, onde historicamente tem uma maioria da população negra. A falta de acesso a serviços básicos, como água potável e saneamento, de estrutura urbana e de condições de moradia digna afetam a saúde e a qualidade de vida dos moradores e agrava, ainda mais, os impactos das mudanças climáticas, ocasionando enchentes e deslizamentos.

 

Somos nós, moradores de favelas e periferias, que mais sofremos com os impactos da crise climática nas cidades.

 

Se por um lado os efeitos do desmatamento, do modo de vida e produção econômica do país tem contribuído para emissão de gases de efeito estufa, para os períodos de seca prolongada e pela epidemia de queimadas criminosas, do outro, temos uma população que sente no bolso os aumentos da conta de luz, a falta de água e de energia, os impactos na saúde com o aumento de doenças respiratórias e o medo sobre as incertezas do amanhã, sobre que mundo deixaremos para nossos filhos e netos. 

 

Só que a desesperança do futuro incerto não paralisa o esforço cotidiano de nossas organizações periféricas, quilombolas, ribeirinhas, indígenas na constante busca para mitigar os efeitos das mudanças climáticas em comunidades inteiras. 

 

É em resposta a essa crise, que organizações de base periférica e favelada desempenham um papel central na produção de soluções locais de combate ao caos climático. A atuação dessas organizações vai além da simples adaptação aos impactos ambientais: elas incorporam a justiça social e o empoderamento comunitário em suas ações, criando alternativas que são eficazes, inclusivas e profundamente enraizadas nas necessidades e realidades das populações locais.

 

Essas organizações, ao atuarem diretamente no território, possuem uma compreensão aguçada das vulnerabilidades específicas de suas comunidades. Isso as torna capacitadas para desenvolver estratégias de enfrentamento que dialogam diretamente com os desafios locais, tais como enchentes, secas e eventos climáticos extremos. Ao criar soluções de baixo custo e grande impacto, como a captação de água da chuva e o incentivo às práticas agroecológicas, essas organizações se destacam por oferecer respostas experienciáveis e escaláveis, adaptadas aos diferentes biomas e realidades regionais.

 

Outra característica importante para se destacar é que, para além de buscar soluções práticas, essas organizações estão, também, na linha de frente da luta por justiça climática. A crise climática amplifica as desigualdades sociais, e as periferias urbanas são desproporcionalmente afetadas. Ao atuar nesses territórios, as organizações de base não só oferecem respostas imediatas, mas também, promovem o empoderamento comunitário, incentivando a participação política e a construção de políticas públicas que levem em consideração as realidades dessas populações.

 

Estes desafios significativos de ausência de investimento robusto, nestas causas, comprometem o futuro de nosso país. Apoiar e fortalecer as organizações de base periférica e favelada é essencial para ampliar o alcance de soluções climáticas inovadoras, escaláveis e inclusivas, que podem servir como modelo para outras regiões em contextos semelhantes. 

 

As periferias têm respostas para o combate às mudanças climáticas no Brasil. No entanto, para que possam continuar sua missão, é essencial que o setor filantrópico e os grandes financiadores reconheçam a importância dessas iniciativas e promovam a democratização dos recursos. 

 

Acreditamos que é a hora de o investimento social privado e as organizações filantrópicas revisarem suas metodologias e escopos de atuação, desburocratizando os métodos de financiamento, aprofundando as relações de confiança com coletivos, organizações e movimentos favelados e periféricos e fazendo os recursos climáticos chegarem na ponta para transformar as realidades. 

 

Se nós queremos ter no Brasil uma filantropia que faça sentido e promova impactos concretos, é preciso colocar as favelas, em especial, pessoas negras, mulheres, LGBTQIAPN+ e periféricas no centro das estratégias de transformação.

 

Não foi pouco o que criamos. Não esperamos as condições perfeitas para começar a agir. Mas, queremos e podemos mais. Sabemos o que pode ser feito quando o dinheiro chega e fazemos juntos quando isso acontece. 

 

O futuro da luta contra as mudanças climáticas no Brasil depende de um compromisso real com a inclusão social e a justiça climática, e as organizações periféricas são, sem dúvida, parceiros estratégicos nesse processo.

 

As periferias têm a resposta e as soluções climáticas!

Por um Brasil com o futuro verde, sustentável e periférico! 
 

Convidamos você a erguer esta PIPA conosco, buscando reunir esforços para democratizar o futuro do país fomentando nossas próximas gerações. 

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