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O Nós para Nós: Coalizão Negra por Direitos como caminho de mudança

Atualizado: há 5 dias

Por Marcelle Decothé - Diretora de Sustentabilidade e Estratégias da PIPA


No dia 16 de setembro de 1832, Manoel Victor Serra, um africano livre que vivia em Salvador, Bahia, fundou a primeira organização civil negra do Brasil, a Sociedade Protetora dos Desvalidos (SPD). Na época, a SPD foi chamada de Irmandade de Nossa Senhora da Soledade Amparo dos Desvalidos e tinha como objetivo fazer uma junta de alforria dos negros escravizados para prestar assistência aos sócios e seus familiares.

A ideia de Manoel Victor repousava na intenção de fornecer oportunidades a pessoas negras escravizadas no Brasil, da compra de alforrias, ao pagamento de rituais religiosos de enterro, o cuidado, a promoção de dignidade e a busca por humanização de negros e negras foi o que balizou o sentido da existência da SPD no século 19. Lido como a origem do que entendemos como "filantropia negra" e seus objetivos, a promoção de caminhos dentro da filantropia e do investimento social privado para ruptura de processos de desigualdade, racismo e exploração, deveriam ser regra e não exceção.

É desta forma que a Iniciativa PIPA aterrissa, neste final de semana, no terceiro encontro nacional da Coalizão Negra por Direitos, que está sendo realizado de forma histórica em Maceió/AL, mais precisamente na Serra da Barriga, território onde Zumbi dos Palmares viveu e perdeu sua vida na luta contra o racismo e a escravidão negra. A PIPA se junta a organizações, entidades, grupos e coletivos do movimento negro brasileiro na missão de seguir reafirmando o legado de resistência, luta, produção de saberes e de vida da população negra, periférica, quilombola e favelada.

Foi também com a estratégia da solidariedade política e de filantropia que Manoel Victor incidiu diretamente para a promoção de vida e dignidade para dezenas de negros e negras a quase dois séculos atrás. A missão de nossa Iniciativa é incidir para que este caminho vire regra no jogo da promoção de grantmaking no nosso país. Embora seja importante reconhecer a grande variedade de financiadores e filantropos que atualmente financiam organizações e instituições que abordam causas sociais e de direitos humanos, urge a necessidade de se desenvolver um novo padrão que transforma radicalmente a concessão de doações, centrando-se na sabedoria, ativos e liderança de comunidades negras que suportam o maior fardo dos danos do racismo sistêmico, climático e ambiental, do capitalismo e da opressão cotidiana que se enraíza no mundo moderno, hoje.

Ampliar a chegada de recursos ágeis, desburocratizados e capazes de fomentar o impacto que organizações negras fazem no Brasil é uma das missões da Iniciativa PIPA. Parte desta teoria de mudança que queremos desenvolver começa, necessariamente, com estar ombro a ombro construindo politicamente com a Coalizão Negra por Direitos caminhos de futuro. Onde o centro, o protagonismo e as encruzilhadas da mudança passem, necessariamente, sobre nós, para nós.


 

Iniciativa PIPA


A PIPA quer construir um mundo em que os recursos filantrópicos e privados sejam acessíveis de maneira ampla e equitativa em termos de raça, gênero e classe.

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