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O caixa está no vermelho, mas o impacto de vidas sempre verde

Atualizado: 1 de nov. de 2023

Débora Paixão - Pesquisadora PIPA na região Nordeste


Desde a adolescência, cresci visualizando de perto, sentindo e participando de projetos sociais enquanto educanda, e assim, construindo a mulher que sou a partir das trocas, aprendizados, puxões de orelha e sendo impulsionada a ser uma melhor versão de mim. Contudo, era perceptível que esses espaços que ocupava não possuíam tantas estruturas físicas, o lanche nem sempre tinha e faltava os materiais. Só não faltava o carinho, amor e os olhos brilhando das tias quando chegávamos para mais um dia de projeto. Hoje, eu sei que mesmo se os recursos não entrarem no caixa e ele continuar vermelho, o impacto de vidas é sempre verde.


Entre os meses de setembro à novembro de 2022 tive a honra de ser uma das pesquisadoras da Pesquisa Periferias e Filantropia - As barreiras de acesso aos recursos no Brasil, realizada pela Iniciativa PIPA, representando o estado de Pernambuco e a região Nordeste do Brasil. A pesquisa buscou colher dados, analisar e entender as diversas realidades de iniciativas que atuam nas periferias e favelas do Brasil, com foco em buscar informações acerca dos recursos financeiros. É sabido de forma verbal, pelas trocas de informações que o setor possui, que a realidade financeira de projetos que atuam na base periférica é muito escassa, entretanto, precisava-se deixar explícito, de forma sistematizada e segura que as periferias e favelas desenvolvem muitas atividades no decorrer do ano, todavia, com os recursos menores não compatíveis com o número de impacto.


Não paramos enquanto eles não chegam


Sendo esta uma realidade não distante da minha, como uma jovem mulher negra, moradora de favela, que constrói sua vivência em coletividade e o seu projeto de mundo, estou inserida de forma ativa em projetos sociais e posso afirmar que o investimento social privado se distancia dos caixas de coletivos, movimentos, grupos e entre outros, oriundos de favelas e periferias, sobretudo quando falamos da região Nordeste do Brasil. Mas nós, que somos a própria base periférica, não paramos enquanto eles não chegam e muitas das vezes realizamos as atividades sem recursos externos, utilizando as nossas estratégias, saberes, e de forma organizada, conseguimos passar pelas adversidades.


Quando visualizei a pesquisa e soube mais sobre os detalhes, logo de cara, acreditei muito na atividade. Creio que, inclusive, é algo inovador no Brasil, pois nunca vi e nem participei de uma pesquisa como essa. Pois, quem se importa com os recursos para as periferias? Quando ouvimos falar de filantropia e quem está recebendo os altos recursos, a minha mente objetifica profissionais privilegiados estando à frente da iniciativa e que não vem de dentro do território, não sente a dor. Mas, a PIPA acreditou e está construindo os meios para ampliar esse acesso.


Como pesquisadora, dialoguei com as iniciativas, fui conhecer os projetos novos e contribui ativamente para que o formulário chegasse ao máximo de iniciativas do meu estado e do Brasil. Foi muito desafiador e, ao mesmo tempo, empolgante. A pesquisa foi realizada em um período muito conturbado para a democracia do nosso país - período eleitoral - e desde então fomos criando processos para propagá-la e não deixar ninguém no caminho.


Em Pernambuco, tivemos a alegria de participar da pesquisa de campo, onde pudemos visitar três organizações com realidades completamente diferentes, mas que se conectam no propósito de contribuir na transformação de uma sociedade mais igualitária, justa e com mais oportunidades. Desenvolvendo seus instrumentos, resistência e revolução que faz a esperança permanecer e a mudança de vida acontecer nos territórios.


Participar deste processo e ter a oportunidade de ser pesquisadora foi importante para minha caminhada, pois pudemos constatar de forma sistematizada que os recursos não chegam iguais ou de forma proporcional para todos os projetos. E, ainda precisamos ampliar este debate para que as empresas do setor privado coloquem em prática o comprometimento social na transformação de vidas em nossa sociedade. Eu tenho certeza que essa pesquisa e os resultados que se darão através dela, serão um marco para a filantropia negra do nosso país.

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