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Qual é o perfil das periferias brasileiras?

Letícia Mendes | Assistente de Pesquisa da Iniciativa PIPA

Nildamara Torres | Coordenadora de Pesquisa da Iniciativa PIPA


As periferias são parte fundamental da população brasileira. Segundo os dados do Censo Demográfico de 2022, existem 13.420 territórios periféricos, representados por 12.348 territórios de favelas e comunidades urbanas, 577 territórios indígenas e 495 territórios de quilombos, espalhados por todo Brasil. Ao todo, aproximadamente 17.283.921 de pessoas residem nestes territórios, representando 8,5% da população brasileira. Diante dessa dimensão e da importância destes territórios, pretende-se investigar aqui: quem compõem as periferias brasileiras e quais as principais diferenças, comparado ao Brasil como um todo. Analisamos a composição da população e dos territórios periféricos, a partir dos marcadores de raça, gênero, idade e região.


Pode-se dizer que a população negra (incluindo pretos e pardos) é, predominantemente, representada nas periferias brasileiras. No Brasil, 55,5% da população é negra, mas esse número aumenta significativamente para 72,9% nas favelas e comunidades urbanas. Por outro lado, enquanto a população brasileira é composta por 43,5% de brancos, esse número representa apenas 26,6% das populações que vivem nas favelas e comunidades urbanas. Essa segregação racial reflete um padrão de desigualdades sociais arraigadas na sociedade brasileira. Além de negra, a população periférica também é jovem. No gráfico abaixo, observamos que o grupo etário predominante no Brasil possui entre 35 a 39 anos (8%) e que nas periferias predominam os jovens de 20 a 24 anos (8,9%). Não só isso.


A pirâmide etária aponta contrastes importantes sobre a composição etária brasileira contra as periferias. As populações jovens de 0 a 29 anos, representam a maioria nos territórios da periferia, enquanto no Brasil, os adultos são quem representam a maioria populacional. Nesse sentido, é evidente que a juventude brasileira não se desassocia da juventude periférica, colocando em xeque o debate sobre o potencial das juventudes negras e periféricas no desenvolvimento social, econômico e comunitário do país.


Gráfico 1 – Pirâmide etária segundo a população brasileira e periférica, 2022.

Pirâmide etária comparando Brasil (verde) e periferias (vermelho), mostrando maior proporção de jovens nas periferias.Pirâmide etária comparando Brasil (verde) e periferias (vermelho), mostrando maior proporção de jovens nas periferias.

Fonte: Censo Demográfico de 2022. Elaboração Iniciativa PIPA. 


Considerando a composição populacional por gênero, há predominância de mulheres no Brasil e, principalmente nas periferias – 51,5% e 51,7%. Entretanto, ao segmentar as informações por território, temos que a predominância feminina é marcante apenas nas favelas e comunidades urbanas, enquanto nos territórios indígenas e quilombolas predominam os homens. Isso levanta questões. A forte presença de mulheres nos territórios de favelas e periferias, pode ter relação com a morte precoce dos jovens negros que residem nestes territórios, dado os massacres que as periferias enfrentam e que afetam, principalmente, a juventude negra masculina.


A segmentação regional da população periférica também é marcante, já que se concentra em regiões de alta densidade populacional: 41,1% no Sudeste e 28,4% no Nordeste. Considerando cada tipo de território que compõem parte das periferias brasileiras, a população que vive nas favelas e comunidades é, majoritariamente, pertencente ao Sudeste (43,4%), concentrada nos Estado de São Paulo (22,1%) e Rio de Janeiro (12,4%).


Nos territórios indígenas e de quilombos a realidade é outra. Levantamos que 52,2% das populações quilombolas vivem no Nordeste, concentradas no Maranhão (16,4%) e na Bahia (11%), e que 49,1% que residem nos territórios indígenas são do Norte e concentram-se no Amazonas (22,3%) e Roraima (11,7%). Saber onde se situam a população quilombola e indígena é essencial para a preservação das culturas afro-brasileiras e indígenas, já que essas comunidades enfrentam desafios significativos na luta por reconhecimento e direitos territoriais, muitas vezes ameaçados pelos interesses econômicos e políticos.


Ao analisar estas informações podemos dizer que as periferias possuem um rosto e um endereço, e mais que isso, distinguem-se da população brasileira como um todo. São os jovens negros do Sudeste e Nordeste, em sua maioria mulheres, quem compõem a maioria das periferias brasileiras, segundo os dados do Censo Demográfico de 2022.


Diante destes dados, é preciso considerar que são as juventudes periféricas quem representam parcela significativa da população e que enfrentam desafios únicos relacionados à desigualdade racial e territorial. São os jovens negros e periféricos os mais afetados por questões como desemprego, acesso limitado à educação de qualidade, exposição à violência e massacre. Esses desafios são exacerbados pela ausência de direitos e oportunidades que, frequentemente, atravessam a vida da população periférica.


Precisamos compreender que essa juventude é o motor da mudança e da inovação no nosso país. São eles quem lideram movimentos culturais e sociais que desafiam as narrativas de exclusão e promovem novas formas de engajamento comunitário, social e econômico. Eles estão à frente das iniciativas que utilizam a tecnologia e a criatividade para transformar a realidade das periferias.


A Iniciativa PIPA levanta estas questões nos últimos anos. A pesquisa “Periferias e Filantropia – as barreiras de acesso aos recursos no Brasil” (2022), já apontava que a juventude feminina negra é o segmento populacional predominantemente responsável pelas iniciativas que surgem das periferias, e são também o público mais impactado pelos projetos sociais que são tocados com menos de 5 mil reais por ano. Os dados do Censo Demográfico de 2022 só vem reforçar o que vem sendo dito: as periferias são um componente vital da sociedade brasileira e, justamente por isso, devem compor os espaços de tomada de decisão no terceiro setor e receber os recursos necessários para girar as engrenagens que movimentam a transformação social no Brasil.


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