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Consolidando uma Filantropia Estratégica no Brasil

Por Gelson Henrique, diretor executivo da Iniciativa PIPA


Qual é a importância de haver uma filantropia estratégica no Brasil? Quando olhamos para o terceiro setor brasileiro, fica evidente que existe uma desproporcionalidade no que tange a alocação de recursos, e como eles são distribuídos. Se você é gestora ou gestor de uma organização que atua localmente em algum território de periferia, já deve ter se questionado, algumas vezes, sobre quão difícil é acessar recursos e manter suas atividades que, na maior parte das vezes, são mantidas por trabalho voluntário e com dinheiro do próprio bolso.


Dada esta realidade, percebemos que o campo da doação no Brasil, ainda, possui muito o que avançar no que tange repasse de recursos para as periferias do país. Podemos afirmar, inclusive, que temos hoje uma prática de financiamento que é muito pouco estratégica, que não leva em consideração quem mais precisa e que de fato lidera a transformação social.


A Iniciativa PIPA é uma iniciativa pensada para ajudar a democratizar o acesso ao investimento social privado no Brasil. Queremos ser uma ponte efetiva de conexão entre financiadores e coletivos, movimentos e organizações de base favelada e periférica que atuam sobre temas relacionados à desigualdades sociais, no combate ao racismo estrutural, produzindo diagnósticos, ferramentas e ações para fazer com que esses recursos cheguem nos territórios periféricos brasileiros.


Nós entendemos que a atual lógica de alocação de investimento social privado não apenas perpetua desigualdades estruturais de raça, gênero e classe, como contribui para que pessoas e grupos periféricos, capazes de impactar as realidades de suas comunidades e territórios, não tenham acesso a recursos significativos para realizar seu trabalho.


Nos últimos anos, o aumento no repasse de recursos a organizações sociais do país, ampliou as potencialidades institucionais do campo, fortalecendo este ecossistema de forma geral. Porém, quando se territorializa essa análise, o que encontramos é uma outra realidade, são dezenas de organizações vivendo com menos de 5 mil reais por ano. Organizações em que todas as pessoas são voluntárias.


Isso é um alerta, que exige que as organizações de base territorial demandem outras práticas possíveis para os doadores no Brasil. Nesta perspectiva, a Iniciativa PIPA mapeou e produziu um guia, que visa apoiar quem doa, para que adotem e repensem os seus processos de doação e façam que o dinheiro chegue, cada vez mais, em quem faz a realidade acontecer: As periferias brasileiras!


Aqui invertemos o jogo, quando muito se fala do que as organizações periféricas precisam fazer para terem financiamento, nós pontuamos o que as organizações doadoras podem fazer para que seu recurso seja repassado de forma mais equitativa. A PIPA destaca três eixos, que podem começar a contribuir para os recursos serem mais facilmente distribuídos, são eles:


Pluralidade nas Equipes


Entendemos que é de suma importância que haja uma maior pluralidade nas equipes, no que tange raça e territorialidade. Desde o planejamento, passando pela execução e terminando na avaliação, pois impulsiona uma mudança estratégica programática internamente.


Financiamento Institucional


Acreditamos que os doadores precisam olhar com mais atenção para suas estratégias de financiamento, visando focar recursos para o fortalecimento institucional das organizações. Usualmente, as organizações de periferias apontam que quando acessam financiamento, estes são para execução de projetos. Com valores que, muita das vezes, não possibilita nem os custos da passagem ou alimentação dos trabalhadores, que majoritariamente atuam de forma voluntária. – Como aponta nossa pesquisa “Periferias e Filantropia”, em 58% das organizações de periferias, todas as pessoas são voluntárias.


Transparência de Portfólios


Costuma-se escutar de diferentes gestoras e gestores de organizações de periferias de todo o país que o caminho do dinheiro é algo super concentrado, que não sabem a quem solicitar recursos. Por conta disso, demandamos que seja uma prática dos financiadores a transparência dos seus portfólios, apresentando que linhas programáticas apoiam.


Por acreditar que é necessário transformarmos a Filantropia e o Investimento Social Privado, a Iniciativa PIPA está se colocando como ponta de lança, como uma organização de infraestrutura do ecossistema, para trazer um ponto de vista que não é usual, com análises plurais e coletiva para o campo e, com isso, conseguir estimular outras práticas.


Nós acreditamos que isso só será feito coletivamente, então, te convidamos a somar com a gente na luta por uma outra cultura de doação no Brasil. Que tenha como estratégia primeira fazer com que os recursos cheguem onde a realidade acontece.


Texto publicado na Revista FIFE 2024


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